Canabidiol: suplemento alimentar ou substância controlada?
A pesquisa com Canabidiol deve ser fomentada, mas não obstacularizar o uso medicinal da maconha no Brasil
por André Kiepper — publicado 26/03/2015 21:33, última modificação 26/03/2015 23:00
A Lei de Propriedade Industrial não considera invenção os materiais biológicos encontrados na natureza, por isso não se pode patentear o Canabidiol, de origem vegetal. O Canabidiol pode ser importado sem barreiras nos EUA como suplemento alimentar, porque a agência de repressão às drogas norte-americana considera derivados de cânhamo industrial sem potencial de abuso ou dependência. A pesquisa com Canabidiol deve ser fomentada, mas não obstacularizar o uso medicinal da maconha no Brasil.
A agência de repressão às drogas norte-americana considera derivados de cânhamo industrial sem potencial de abuso ou dependência
Entrevistei uma vez o professor Mahmoud A. ElSohly, da Faculdade de Farmácia da Universidade de Mississippi, onde o governo dos EUA mantém cultivos de maconha desde 1968. Para minhas três perguntas, ElSohly respondeu que faz cultivos indoor e outdoor; que seu laboratório é o único oficial, aprovado para cultivar e distribuir maconha para pesquisas científicas em todo o país; e que trabalha mediante demanda do Instituto Nacional de Abuso de Drogas, uma agência do governo vinculada à Saúde.
O maconheiro e a ética das cabeças desfeitas
A voz do maconheiro é ouvida até demais nos meios de comunicação, mas não de uma maneira adequada. Nos programas policiais, o usuário é exposto pelos comandantes de polícia como um troféu podre que foi tirado de circulação por eles, os cavaleiros do bem, armados de uma inigualável moral cívica. O repórter do programa também aparece armado com o que ele julga o mais poderoso dos recursos: a ética da própria cabeça. Esta ética é parecida com a de muitos pais de família, presos à realidade de palácios confortáveis em bairros com “excelente localização”.
O que muitas pessoas não sabem – ou não querem saber – é que o mesmo pai de família que aponta o dedo para o “maconheiro” preso por porte da droga pode ter uma pessoa de qualificação semelhante dentro de casa. Pesquisa realizada pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), por meio do Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (Lenad), mostra que 8 milhões de pessoas já usaram maconha em algum momento de suas vidas. Vale ressaltar que 8 milhões de pessoas equivale a 7% da população adulta do Brasil.
Maconha ou álcool, o que é menos mortal?
Pesquisa publicada na revista científica Scientific Reports analisou a letalidade de 7 drogas e concluiu que a maconha é a menos perigosa em nível individual, sendo 144 vezes menos mortal que o álcool
A maconha é quase 144 vezes menos mortal do que o álcool, de acordo com uma pesquisa publicada na revista científica Scientific Reports.
Das sete drogas incluídas no estudo, o álcool foi considerado a mais perigosa em nível individual, seguido pela heroína, cocaína, tabaco, ecstasy, metanfetamina e maconha.
Drogas e capitalismo - Quem são os verdadeiros criminosos
Se o leitor, acreditando na Rede Globo e similares, pensa que os verdadeiros e maiores culpados pelo inferno imposto ao povo brasileiro pelo crack, cocaína e maconha são os traficantes das favelas e subúrbios das cidades, está enganado. Essas gangues são apenas vendedoras varejistas, "funcionárias" de um patrão atacadista, e estão no degrau menos poderoso e rico de um gigantesco business capitalista nacional e internacional.
Os donos, diretores e administradores dessa cadeia produtiva integrada à economia do imperialismo, embora se escondam em luxuosos edifícios e debaixo de seus caros ternos de executivos, podem ser plenamente identificados. São membros das classes dominantes. Financistas, empresários da alta burguesia e latifundiários.